casual _


A carta

Chega a casa, afaga o pêlo do cão, arrota, lê a correspondência. Segurança Social, seguros, Barcelona. Barcelona? Abre a carta de Cataluña, dentro tem um postal das Ramblas onde está escrito: Hola Papi, te hecho de menos. Ayer fue mi cumpreanos, tengo 6 años, estoy triste sin ti. Besos Helena... Helena, Barcelona, 6 anos, papi? Não entendo. Laura, será? Afinal aquela noite de loucura tinha dado um fruto de nome Helena. Fo#"%, crl, burro, burro. Nunca pensei, aliás nem pensei, deixei-me ir. Chicotes, algemas, maçã na boca, contra a parede, auau, olé... Tudo isto se passava na sua cabeça.

O que fazer? Entretanto mudou de telemóvel e perdeu alguns números, já não tinha o contacto de Laura. Depois de telefonar aos amigos desse interail, perguntar se tinham o número da Laura de Barcelona, sem sucesso, ver as listas telefónicas online de Espanha, pensou em Belmiro. O seu amigo da Judiciária. Estou Belmiro? Preciso de ti, da Interpol, CIA...

Resolveu contar à Joana que reagiu intempestivamente. És um ordinário, vais com todas, vou deixar-te e vou para casa do Raimundo, ao menos ele anda só comigo.

Demitiu-se do emprego, alegando depressão e com o dinheiro que tinha poupado para o casamento com a sua, agora, ex-namorada, resolveu ir para Barcelona à procura do que lhe restava, Helena. Mala feita, táxi à porta. Aeroporto por favor. Tira a carta do bolso, retira o postal e imagina-se a descer as Ramblas con su niña. Volta a guardar o postal no sobrescrito, sem deixar de reparar no endereço do destinatário, Juan Otero. Juan Otero, o do 3º???? Correios do crl...

10 Responses to “A carta”

  1. # Anonymous Anónimo

    Casual começa o ano com um pequeno conto dedicado a todos os distraídos com envelopes, papéis, sobrescritos e afins (eu incluído).

    Aguarda-se ansiosamente pelo epílogo. Ele ficou em Barcelona ou foi de comboio para Saragoça onde encontrou um toxicoindependente à beira de ingressar numa clínica de reabilitação?  

  2. # Anonymous Anónimo

    C'um caraças, maçã na boca??? Bem, cada um tem as suas fantasias!  

  3. # Anonymous Anónimo

    Ok, li mal, ele não chegou a ir para Barcelona... Eu bem disse que era um distraído com textos e afins...  

  4. # Anonymous Anónimo

    Muito bom o conto, Casual. E é baseado numa história verídica ou é um dos poucos casos em que a ficção supera a realidade?

    Gen, para essa distracção toda só haveria um remédio eficaz. Na forma de um postal.  

  5. # Anonymous Anónimo

    Não agoires VR, não agoires... ;)  

  6. # Blogger pinky

    grande história! muito bem escrita e com grande dose de humor! parabêns.  

  7. # Blogger Bulhão Pato

    Lindoooo!
    Forçaste-me a rir alarvemente no local de trabalho, malandro. Por tua culpa, o resto dos cobradores, aqui na Direcção Geral de Contribuições e Impostos, olhou-me de soslaio porque, é dos livros, um cobrador nunca sorri.
    Grande abraço.  

  8. # Blogger Menina da Lua

    Nem quero imaginar como terá ficado o Juan Otero sem a carta prometida da sua filhota! :) Beijo meu  

  9. # Blogger Unknown

    estes correios não funcionam nd bem---LOOOL
    Beijos
    gostei imenso!!  

  10. # Blogger casual

    gen, o rei do post it.

    vr, qualquer semelhança com a realidade nem sempre é mera coincidência.

    pinky, dança comigo:)

    Bulhão, gosto de rir alarvemente, embora nunca o tenha feito numa repartição de finanças, vá lá saber-se porquê...:)Saudações leoninas

    Menina da Lua, não imagines. O papi Juan Otero já não é o mesmo. Tema a desenvolver em futuro post.Bj. Obrigado pelo teu beijo.

    C.a.r.l.o.t.a, por isso é que ainda funciono com pombos correio. bj  

Enviar um comentário